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O momento da sustentabilidade da saúde é agora

Octávio Nunes, CEO & Founder da NuOn Health – Educação & Acesso em Saúde*
Hélio Osmo, consultor, fundador da Science & Strategy e Presidente da SBMF – Sociedade Brasileira de Medicina Farmacêutica
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Melhorar o diálogo e a confiança entre os pagadores (como o Governo, as seguradoras e as organizações de financiamento da saúde) e os provedores (hospitais, clínicas e fornecedores de tecnologias) é vital para a sustentabilidade e a eficácia do sistema de saúde.

Uma parceria sólida entre esses dois grupos pode levar a uma melhor tomada de decisão, alocação eficiente de recursos e melhor atendimento ao paciente. O aprimoramento do diálogo e a confiabilidade entre pagadores e provedores é um processo lento e frágil, exige investimento de tempo e visão de longo prazo.

Os canais de comunicação precisam permanecer abertos e transparentes entre pagadores e provedores. Reuniões, fóruns e discussões regulares podem ajudar a identificar desafios, compartilhar perspectivas e explorar soluções de forma colaborativa.

Uma agenda institucional permanente permitirá o alinhamento dos interesses e objetivos dos pagadores e provedores para garantir que estejam trabalhando em prol de metas comuns.

A criação de incentivos compartilhados, como modelos de pagamento baseados em desempenho e/ou valor pode promover a cooperação e incentivar ambas as partes a se concentrarem na melhoria dos resultados da assistência à saúde.

O diálogo e geração de confiança vão permitir um compartilhamento de dados. A troca de dados relevantes entre pagadores e provedores. A análise de dados pode ajudar a identificar tendências, avaliar o desempenho e apoiar a tomada de decisões com base em evidências para os aspectos financeiros e clínicos do gerenciamento da assistência médica.

Faz-se necessária a transição dos modelos de taxa por serviço para o atendimento baseado em valor, em que o reembolso está vinculado aos resultados dos pacientes e à qualidade do atendimento prestado. Essa abordagem incentiva o foco no atendimento preventivo e no bem-estar do paciente, em vez do volume de serviços.

Vale lembrar que o paciente é o centro de tudo e é por ele que empresas e instituições devem sempre trabalhar. O estabelecimento de métricas de qualidade padronizadas que sejam acordadas entre os pagadores e os prestadores de serviços e fornecedores de produtos e soluções garante que as avaliações de desempenho sejam justas, consistentes e significativas, permitindo que os provedores atendam claramente as expectativas.

Faz-se necessário, igualmente, desenvolver mecanismos para mediação imparcial e de resolução de conflitos em caso de desacordos ou disputas entre pagadores e provedores.

Esse processo deve ser justo e sem viés, promovendo a confiança e a cooperação. Os provedores de serviços e tecnologias precisam ser mais envolvidos nos processos de tomada de decisão e nas discussões sobre políticas públicas de saúde. A inclusão de suas contribuições nas políticas e na implementação do setor de saúde pode levar a soluções mais práticas e eficazes.

É necessário, e urgente, aumentar a conscientização da sociedade sobre os desafios enfrentados pelo sistema de saúde e a importância da colaboração entre pagadores e provedores. Cidadãos informados e engajados podem defender mudanças positivas e responsabilizar ambas as partes por suas ações.

Melhorar o relacionamento entre pagadores e provedores é um processo contínuo que exige compromisso e esforço de todas as partes interessadas. Ao trabalhar em conjunto com uma visão compartilhada, o sistema de saúde do Brasil pode avançar para uma abordagem mais sustentável, eficiente e centrada no paciente para a prestação de serviços de saúde.

A INFLUÊNCIA DOS AVANÇOS TECNOLÓGICOS NA SAÚDE

Os avanços tecnológicos na área da saúde também têm o potencial de exacerbar e ao mesmo tempo aliviar esses problemas. Embora algumas tecnologias possam eventualmente levar ao aumento relativo dos custos, elas também podem oferecer oportunidades de melhorias no desempenho, na relação custo-benefício e na geração de dados confiáveis.

Os avanços tecnológicos na área da saúde geralmente têm um preço mais elevado que está, necessariamente, relacionado aos altíssimos investimentos de risco em pesquisa, desenvolvimento, implementação e manutenção das inovações. Se esses custos não forem cuidadosamente gerenciados, eles podem contribuir para o ônus financeiro geral do sistema de saúde que podem incluir má gestão, desperdício, uso inadequado e falta de conhecimento científico sobre essas tecnologias.

Considerando os fatores mencionados, é preciso ressaltar que as tecnologias têm potencial de melhorar a eficiência e a eficácia dos serviços de saúde consideravelmente. Por exemplo, os registros eletrônicos de saúde, sejam prontuários hospitalares, registro de exames diagnósticos ou registro universal de doenças que simplificam os processos administrativos, reduzem a burocracia, fornecem dados para pesquisa clínica e melhoram a comunicação entre os prestadores de serviços de saúde, resultando em um atendimento mais eficaz e coordenado.

Dados precisos, e em tempo real, são essenciais para a tomada de decisões informadas e a otimização da alocação de recursos. Os sistemas de informações de saúde e as ferramentas de análise de dados podem ajudar a coletar, processar e analisar grandes quantidades de dados, o que leva a melhores percepções e à toma da de decisões baseadas em evidências.

A telemedicina e as tecnologias de saúde remota podem estender o acesso à saúde para áreas remotas, reduzindo a necessidade de investimentos caros em infraestrutura. Elas também podem fornecer serviços de saúde mais econômicos e oportunos para pacientes em centros urbanos.

A tecnologia pode ajudar na promoção de medidas preventivas de saúde, como dispositivos de monitoramento de saúde “wearable” que rastreiam sinais vitais e escolhas de estilo de vida. Ao se concentrar na prevenção, o ônus dos tratamentos caros para doenças avançadas pode diminuir com o tempo.

Para enfrentar o momento crítico da sustentabilidade da saúde, o Brasil precisa estabelecer um diálogo colaborativo e transparente entre os pagadores (Governo, seguradoras, operadoras etc.) e os provedores (hospitais, clínicas, tecnologias – medicamentos, devices etc.). Eles devem trabalhar em conjunto para encontrar soluções que tragam um equilíbrio entre a implementação de tecnologias benéficas e o gerenciamento eficaz dos custos.

ALGUMAS ESTRATÉGIAS POSSÍVEIS INCLUEM:

Priorização de tecnologias econômicas: Investir em tecnologias que ofereçam o melhor custo-benefício, levando em conta seus benefícios de longo prazo e a possível economia de custos.

Reformas regulatórias: Revisar e atualizar os regulamentos do setor de saúde para acomodar novas tecnologias, incentivar a inovação e garantir a segurança do paciente.

Parcerias público-privadas: Promover colaborações entre os setores público e privado para alavancar os pontos fortes de cada um e atingir metas comuns para melhorar a prestação de serviços de saúde.

Avaliação da tecnologia da saúde: Implementar um sistema robusto de avaliação de tecnologia de saúde para avaliar a eficácia e a relação custo-benefício de novas tecnologias médicas antes da adoção generalizada.

Interoperabilidade de dados: Melhorar a interoperabilidade e os padrões de dados para garantir o intercâmbio contínuo de dados entre diferentes prestadores de serviços de saúde, permitindo registros mais abrangentes e precisos dos pacientes.

Educação e treinamento: Investimento no treinamento e na formação de profissionais da área de saúde para que eles possam usar com eficácia as novas tecnologias e interpretar os insights dos dados para uma melhor tomada de decisão.

Ao adotar a tecnologia de forma ponderada e colaborativa, o Brasil pode encontrar maneiras inovadoras de aumentar a eficiência do setor de saúde, reduzir custos e oferecer um melhor atendimento aos seus cidadãos.

Entretanto, é essencial abordar a implementação tecnológica com cautela e avaliar continuamente seu impacto para garantir a sustentabilidade em longo prazo. Os pilares para seguirmos num caminho para buscar soluções para a sustentabilidade na saúde hoje no Brasil são o diálogo e a rápida implementação de recursos tecnológicos para a melhoria do desempenho.

*Esse artigo foi publicado originalmente na revista UpPharma.

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