Fonte: Redação
Roubo de cargas, prazos estendidos para pagamentos e alta complexidade logística frente às dimensões continentais do Brasil são alguns dos muitos desafios listados em estudo encomendado pela Abradimex (Associação Brasileira de Distribuidores de Medicamentos Especializados, Excepcionais e Hospitalares) à consultoria Deloitte, divulgado na semana passada. A pesquisa também aponta dificuldades regulatórias e sanitárias, além de elevada capacidade técnica e de gestão no setor.
Segundo o levantamento, o mercado farmacêutico nacional alcançou R$ 229 bilhões e as vendas para o canal institucional ganharam ainda mais relevância, com avanço de 17,9% nos últimos 12 meses até agosto de 2024. Esse segmento é composto por medicamentos de especialidades, excepcionais e hospitalares, entre os quais biológicos, biossimilares, imunoterápicos, de referência, similares e também genéricos, com operadoras de planos de saúde e governos como principais fontes pagadoras.
O volume de negócios nesse segmento já movimenta R$ 44 bilhões, tendo as distribuidoras especializadas como elos estratégicos da cadeia de medicamentos de alta complexidade. Em contrapartida, a crescente necessidade de aprimorar a capacidade logística e tecnológica para atender à demanda, atrelada a fatores macroeconômicos e à pressão de custos sobre o sistema de saúde, impõem desafios crescentes para essa atividade.
Atualmente, a Abradimex reúne 15 distribuidoras, com capilaridade logística para atender 15 mil instituições de saúde. São 243 SKUs (Unidades de Manutenção de Estoque) que equivalem a aproximadamente 10 milhões de entregas mensais. Essas empresas abastecem 80% dos hospitais privados e 61% das clínicas no Brasil, com market share de 75%. “Esses números ratificam o papel fundamental desses agentes para viabilizar o acesso da população a tratamentos de doenças raras e de alta complexidade”, enfatiza Paulo Maia, presidente-executivo da entidade.
A venda via distribuidor é predominante ou ganha participação de mercado nas principais classes terapêuticas do mercado institucional. “A oncologia lidera o faturamento do mercado (35,67%) e as distribuidoras são fornecedoras da maior parte dos medicamentos (82%)”, destaca Maia. O mesmo acontece com anti-infecciosos/fúngicos e hormônios (74%). As distribuidoras também tiveram ganho de market share de 4,2 pontos percentuais nas vendas de produtos para terapias de imunologia.
O estudo também avaliou os desafios crescentes de um setor que utiliza tecnologia intensiva e, ao mesmo tempo, é sensível e altamente regulamentado. Além do arcabouço técnico exigido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e pelas vigilâncias sanitárias locais, a constante evolução da indústria farmacêutica exige das distribuidoras mais ostensividade no aprimoramento técnico.
O setor atua em um país tropical, diverso, de dimensões continentais e com gargalos de infraestrutura. Essa realidade traz desafios extras como a garantia de integridade das cargas, que dependem de um rígido controle de temperatura. “A não observância a esse detalhe pode inutilizar o medicamento e gerar custos milionários às fontes pagadoras”, alerta Maia.
Segurança é outro ponto sensível. “Desde o momento em que o medicamento é recebido na sede ou nos centros de distribuição, são necessárias medidas rigorosas para mitigação de roubo dessa carga. No momento em que a mesma se desloca ao destino final, seja um hospital ou clínica especializada, o cuidado segue junto, com adoção de medidas como contratação de unidades de transporte blindadas e/ou contratação de escolta armada”, observa Maia.
Outro ponto sensível diz respeito à gestão de acordos comerciais, cada vez mais lastreados por pressões de margens, pelos elevados riscos decorrentes das taxas de inadimplência e pelo aumento de 20%, nos últimos dois anos, na diferença entre os prazos de recebimento e pagamento.
Por fim, Maia destaca a capacidade de gestão, que corresponde não apenas a recursos administrativos, mas também aos colaboradores das distribuidoras associadas, garantindo que há know-how adequado para suportar todas as necessidades de cada etapa do processo logístico. “Mesmo diante desses desafios, o setor procura reforçar investimentos para aprimorar e acelerar a execução de suas atividades, ratificando seu claro compromisso com a cadeia da saúde e com o acesso a medicamentos no país”, finaliza Maia.