O Fórum Brasileiro sobre Sistemas de Saúde e Modelos de Pagamento Baseados em Valor, realizado nesta segunda-feira, dia 28 de agosto, em São Paulo, em parceria entre SBMF, NuOn Health e a consultoria Science & Strategy, nos trouxe inúmeros insights e reflexões.
Primeiro, em relação ao cenário atual sobre como os principais atores da cadeia de valor da saúde, sejam púbicos ou privados, estão interagindo. Hoje, não há diálogo nem interação para discutir a melhor forma de medir resultados e desfecho na atenção à saúde e ao acesso, em possível substituição ao modelo consagrado de remuneração por serviços prestados, conhecido como fee for service
No entanto, todos concordam que é preciso encontrar um caminho de transformação e buscar alternativas que sejam viáveis para as características brasileiras e os sistemas de saúde. Se é assim, então, por que não estamos avançando no objetivo de garantir a sustentabilidade do sistema de saúde e, ao mesmo tempo, oferecer o melhor cuidado, assistência e tratamento ao paciente?
Na abertura do Fórum, o CEO da NuOn Health, Octávio Nunes, alertou para a necessidade de promover o diálogo e fortalecer a interlocução entre os stakeholders do mercado de saúde. A NuOn pretende ser a facilitadora deste processo.
Posicionamento
A ideia de promover este debate sobre os novos modelos de pagamento baseados em valor decorre de uma oportunidade. Chega no momento exato em que estamos assistindo a um crescente movimento de transição do histórico modelo de pagamento conhecido como fee for service, para os modelos de remuneração baseados no desfecho e o que isso representa para o paciente e para o sistema.
Acreditamos que o movimento de transição pavimentará um caminho sem retorno para uma transformação no modelo assistência, mas, no caso do Brasil, será preciso, antes, estabelecer a relação entre causa e efeito.
A intensa discussão sobre alternativas possivelmente aplicáveis é consequência do modelo consagrado que leva em conta o pagamento por aquilo que é efetivamente realizado. E ainda hoje é considerada uma forma justa de remuneração pelo serviço prestado. Mas que agora vem sendo revista!
Enfrentar os enormes desafios que os sistemas de saúde têm diante de si, sem considerar a gestão eficiente, os recursos financeiros, econômicos, humanos e operacionais podem, de fato, pôr em risco os instrumentos capazes de tornar os sistemas realmente sustentáveis. A sustentabilidade é a grande preocupação dos gestores, sejam eles privados ou públicos.
> Primeiramente, pela pressão de demanda decorrente da pandemia que represou milhões de procedimentos, consultas, atendimentos, exames, terapias e cirurgias;
> Depois, pelo aumento dos casos de câncer. Serão 704 mil casos por ano, pelo menos até 2025, de acordo com o INCA; com grande impacto nas ações de prevenção, diagnóstico e tratamento;
> Os desafios da transição demográfica que transformará o Brasil em um País de idosos. A população brasileira acima dos 60 anos irá dobrar e chegará a 70 milhões de pessoas em 2050. Quanto mais velho, mais suscetível a doenças o cidadão estará.
> Além do fenômeno do envelhecimento, ou da longevidade, será preciso lidar com o aumento das doenças cardiovasculares e de outras enfermidades e condições de saúde que nos afetam e que vão continuar pressionando os sistemas em ritmo acelerado.
Por outro lado, a corrida científica e tecnológica, que nos últimos tempos abreviou processos, flexibilizou regulamentações e encurtou distâncias, avança em direção à nova fronteira da medicina e do conhecimento. A inteligência artificial, as terapias avançadas, (como as células Car-T para tratamentos altamente complexos); os diagnósticos personalizados, robôs, nanotecnologias; está em curso a transformação da assistência e do acesso à saúde.
Entretanto, as barreiras regulatórias e os recursos financeiros e humanos continuarão sendo limitadores para que estes meios estejam acessíveis, gerando um descompasso entre as inovações tecnológicas e as necessidades dos sistemas e da nossa sociedade.
Atualmente, 75% dos brasileiros dependem exclusivamente do SUS e outros 25%, algo em torno de 50 milhões de pessoas, são assistidas por 680 operadoras ativas, de acordo com o Panorama da Saúde Suplementar, divulgado em julho pela ANS. Destaca-se aqui o relevante papel dos planos na assistência suplementar à saúde dos brasileiros.
Independentemente dos efeitos da maior crise sanitária que o mundo já viu e de suas lições e aprendizados; da grandiosidade do sistema de saúde brasileiro, um dos mais importantes do mundo; e da inescapável necessidade de buscar alternativas para a sustentabilidade, os dilemas do ecossistema da saúde permanecem praticamente intocados.
Muitos fatores justificam a falta de ações práticas para mudar o cenário de dificuldade. Para muitos gestores, a transição do modelo de pagamento por serviços pela modalidade “remuneração baseada em valor” esbarra na frágil interlocução entre prestadores de serviços e os pagadores. E tudo que envolve essa relação: os termos de negociação, os sistemas de informação, a falta de confiança nos dados disponíveis para a tomada de decisão ou, simplesmente, a incapacidade de fazer um gesto singelo de convidar um player importante do mercado para se sentar à mesa e alinhar temas comuns que afetam o ecossistema como um todo e não apenas partes.
Há uma frase do pensador Leon Tolstói que diz: “Há quem passe por um bosque e veja somente a lenha para a sua fogueira”. Precisamos mudar isso!
O que a SBMF, a Science & Strategy e a NuOn Health estão propondo é mais que uma reflexão. É uma trégua em meio a uma guerra silenciosa. Estamos propondo o início de um grande debate institucional, permanente, no qual muitos outros atores podem contribuir para que os modelos de pagamentos, os mais adequados para a realidade brasileira, possam prosperar.
A partir de agora, iniciaremos a construção de um movimento de transformação por meio de reuniões regulares, formação de grupos de trabalhos ou comitês institucionais para chegarmos ao Fórum Permanente sobre Sistemas de Saúde.
Temos a certeza de que muitos especialistas contribuirão para a continuidade do diálogo, possibilitando que a discussão se torne objetiva e prática.
Que possamos, verdadeiramente, sair da teoria e viabilizar o sistema em benefício do paciente brasileiro — o epicentro do acesso, onde tudo começa e onde tudo termina.