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Pagadores não querem promessas, querem resultados

Existe uma tendência muito forte para os próximos anos em healthcare para o desenvolvimento de novos modelos de pagamento aos provedores de saúde, seja de serviços ou fabricantes de novas tecnologias. É o Value Based Payment Models (VBPM) ou modelos de pagamentos baseados em valor.

Vivemos nos últimos 30 anos uma verdadeira guerra entre pagadores do Sistema Público e Privado e, os provedores de saúde, sejam eles de tecnologias e ou serviços. Uma guerra que causa inúmeros prejuízos em ambos os lados. A tendência seria que piorasse, uma vez que as tecnologias estão crescendo e os serviços estão se tornando cada vez mais sofisticados. No meio disso tudo, o paciente convive.

Por outro lado, assim como nas guerras, finda a agressividade, inicia o diálogo. E o diálogo já está na pauta dos atores da saúde.

O VBPM é um tipo de pagamento que valoriza resultados, diminuição de custos, melhor experiência dos pacientes e melhores desfechos clínicos.

Os provedores de tecnologia em saúde têm se mostrado altamente engajados em melhorar as conversações com os pagadores e buscar formas de vincular os pagamentos a resultados monitorados e assinar contratos baseados em desfechos. São os OBA (Outcome Based Agreements). Não só no Brasil, mas em todo mundo esses contratos estão engatinhando.

Nos OBAs, o pagamento depende, total ou parcialmente, dos resultados alcançados. Os provedores de serviços são, portanto, diretamente incentivados a fornecer resultados com os usuários do serviço. Quanto mais resultados eles entregarem, mais provedores de tecnologia serão pagos. Esses contratos podem eventualmente incluir serviços complementares aos pacientes ou investir na capacitação de toda a cadeia para essa nova perspectiva.

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Há um certo ceticismo por parte dos provedores de tecnologia em relação aos OBAs, pois se não forem muito bem estudados, podem colocar o negócio em risco.Um verdadeiro OBA requer uma quantidade considerável de planejamento estratégico. Entretanto, este fluxo de informações precisará seguir os dois caminhos, pois as partes precisarão determinar se compartilham dos mesmos valores. Embora a confiança seja de suma importância, este fluxo de comunicação deve estar sujeito a compromissos contratuais de confidencialidade antecipados. Talvez seja óbvio afirmar, mas o mais importante é que ambas as partes tenham um alinhamento genuíno de interesses. Num ambiente de guerra isso não existe.

Há também a expectativa de que os provedores de tecnologias melhorem a qualidade das evidências científicas de seus produtos. Novos modelos de pesquisa, como o RWE (Real World Evidence), têm avançado nesse sentido e espera-se que este modelo possa diminuir a sensação de que as evidências são mais promessas do que desfechos concretos. A Inteligência artificial vai evoluir em todos os sentidos nos próximos anos e todo o sistema vai se beneficiar, mas principalmente a obtenção de evidências científicas de alto impacto.

A saúde suplementar sente-se carente de dados clínicos sobre desfechos de seus pacientes e está disposta a oferecer incentivos por melhor transparência nos dados e por melhor performance dos provedores de serviços. Diálogo, melhora nas relações e cultura do ganha-ganha são vistos como vantagem para redução de custos no futuro.

A Saúde Pública tem uma obrigação social com a população vulnerável e ao mesmo tempo sofre com a imagem de que oferece um apoio de baixa qualidade com custo elevado. É fortemente politizada, de maneira que decisores são influenciados por iniciativas partidárias e ideológicas. Talvez seja o setor que mais dificilmente o diálogo avança. É pouco comprometido com metas e performance. Mas continua sendo o mais importante cliente dos provedores, seja de tecnologia ou serviços. Os jovens servidores têm um perfil mais aberto ao diálogo e é um campo fértil para a criatividade no desenvolvimento de OBAs. Já é tempo de oferecer um melhor acesso à população menos favorecida. Os provedores de serviço do Sistema Público necessitam urgentemente de capacitação de boa qualidade.

Os provedores de serviço, tanto público como privado, precisam implementar novos modelos de entrega. Os serviços de saúde precisam implementar protocolos validados, mas principalmente serem cobrados pelos gestores a praticá-los. Atualmente, os gestores só cobram redução de custos fixos, o que é o extremo da primariedade na gestão em saúde. Os gestores precisam desenvolver planos estratégicos completos, baseados em dados confiáveis, metas, capacitação dos funcionários e, principalmente, resultados. A melhor maneira para isso se tornar uma realidade é que os pagadores definam essas ações em contratos e monitorem periodicamente a evolução dos serviços.

Dr. Helio Osmo
MD, MBA e sócio-fundador da Science & Strategy