Dr. Eduardo F. Motti
Sócio Gestor da Consultoria Trials & Training
O recente transplante cardíaco a que Fausto Silva foi submetido foi capaz de aumentar a quantidade de órgãos transplantados em 25%. Agora, o Faustão, esse grande comunicador, acorda da cirurgia e com voz ainda rouca lança o desafio de fazer do Brasil o campeão mundial em transplantes. Não tenho dúvidas de que esse será sua nova motivação na vida e que, com sua força popular, vai conseguir.
Será bom para o Brasil, melhor ainda para as milhares de pessoas que aguardam um transplante de órgãos. Bom para a Medicina pública, que terá um reforço de verbas e estrutura e melhor para a população que ganha conhecimento sobre um tema tão delicado que envolve a morte e a doação, o que aliás já vem acontecendo.
Vale lembrar os pontos em comum com a pesquisa clínica, que de tema desconhecido e relegado a poucos profissionais, ganhou enorme notoriedade durante a pandemia de COVID e o desenvolvimento bem-sucedido das vacinas. A cobertura da imprensa e a adesão da população à necessidade de se fazer os estudos rapidamente levou as instâncias oficiais, leia-se ANVISA e CONEP, a uma mobilização sem precedentes. Os estudos foram implementados em poucas semanas, o que antes levava meses. O Brasil foi reconhecido internacionalmente pelo seu desempenho nos estudos de vacinas.
Infelizmente, passada a urgência da pandemia e as pressões populares, voltamos à medíocre situação anterior, o momento de força foi perdido. Os projetos voltam a demorar meses nos escaninhos de Brasília. Perde a população a chance de receber novos tratamentos, perde o país o ingresso de recursos, perdem-se os empregos criados.
É inútil imaginar que as engrenagens oficiais se movem por ação de valores morais, humanitários, ou pela busca do conhecimento. Elas têm de ser empurradas por pressão externa popular. A pesquisa clínica precisa do Faustão!
