“Bom dia Sr. José, eu sou o Dr. Antonio. Entre e sente-se aqui, por favor.”
Dr. Eduardo F. Motti
Sócio Gestor da Consultoria Trials & Training
Ao terminar essa frase, o cérebro do José e do Antonio já formou uma primeira impressão sobre esse encontro. Nos quatro minutos seguintes, o Sr. José terá uma imagem mais clara sobre se o Dr. Antonio é o médico que ele quer, e o Dr. Antonio já terá avaliado como deve se conduzir com aquele paciente.
“Rapport” é a palavra que define essas impressões iniciais e ajuda a dirigir o comportamento durante o restante do encontro. Estabelecemos rapports em todos os nossos encontros, seja no trabalho, na escola, em casa, ou ao consultar um profissional. E nós brasileiros, em geral, somos bons de rapport. Isto é, temos certa facilidade em entender o outro e em nos fazermos entender. É um dos nossos pontos fortes em relação a outros povos, outras culturas.
O rapport é apenas o primeiro passo para o médico criar o vínculo que chamamos de relação médico-paciente, uma relação especial, de confiança mútua, que deve envolver empatia e tolerância de ambos os lados.
Na pesquisa clínica, o primeiro rapport ocorre bem antes da consulta médica. Ao chegar ao centro de pesquisa, o voluntário em potencial é exposto ao time da recepção, depois aos profissionais de saúde que farão a triagem do seu caso e, finalmente, ao médico pesquisador. Cada um desses encontros é fundamentalmente importante para que a pessoa aceite participar da pesquisa e, assim, ter sucesso o recrutamento dos melhores voluntários para o projeto. Para o sucesso do estudo clínico, rapports de qualidade são críticos, pois aqueles que decidirem participar devem também permanecer no estudo até a sua conclusão, para que seus dados sejam contados no resultado final.
O recrutamento de voluntários é hoje o maior desafio dos projetos de pesquisa clínica. Cerca de 80% atrasam por falta de voluntários e 10-20% dos centros de pesquisa não recrutam um único voluntário. O recrutamento depende de 3 fatores básicos:
1- A existência de pacientes apropriados para o estudo em número suficiente.
2- Encontrar esses pacientes e traze-los para os centros de pesquisa.
3- Conseguir que os pacientes aceitem participar do estudo.
No Brasil, com a imensa população do país, a existência de pacientes é quase certa. Para achar esses pacientes, o remédio mais comum tem sido o uso intensivo de tecnologia para chegar aos voluntários: minerar dados epidemiológicos de incidência, hábitos de consumo de medicamentos, robôs patrulhando mídias sociais, inteligência artificial que possa identificar características mais prováveis de possíveis voluntários etc. Tudo isso é ótimo, mas exige investimentos. A tecnologia tem tido um papel crescente e importante, mas não é suficiente.
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O voluntário que chega ao centro de pesquisa tem uma expectativa a ser preenchida: quer ser VISTO, OUVIDO E COMPREENDIDO. É isso que a equipe do centro precisa ofertar desde o primeiro momento – acolhimento. Como mencionei antes, em geral, fazemos isso muito bem e de forma natural. Nossos profissionais de pesquisa são, em sua maioria, jovens, simpáticos e motivados para trabalhar em prol dos pacientes.
Isso conta muito para um bom rapport. Aprimorar técnicas de atendimento não exige grandes investimentos (“low-tech”), melhora o ambiente de trabalho da equipe e pode trazer melhoras quânticas nos resultados dos centros de pesquisa, além de mais felicidade e segurança para os voluntários.
Esse é o segredo do nosso sucesso no recrutamento de pacientes. Em muitos projetos, nossos centros são campeões no número de voluntário sem estudos globais, e na retenção desses pacientes até o final da observação. Precisamos reforçar essa fortaleza e podemos fazer ainda mais.
Leitura recomendada: Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes, Steven Covey, Ed. Best Seller, 2017.