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O que será do mês de março e das nossas vidas

O próximo março não será lembrado apenas por ser o mês da Mulher, embora tenha o dia 08 especialmente determinado para as celebrações, homenagens e reconhecimentos a respeito das conquistas e do empoderamento das mulheres. No calendário, março traz outras tantas datas importantes, mas jamais o mundo se esquecerá que foi justamente nesse mês que a Organização Mundial da Saúde (OMS), admitiu e declarou que o Planeta havia sido atingido pela pandemia do Coranavírus. Lá se vão 2 anos!

A lembrança estará para sempre rondando o consciente coletivo e, passados 24 meses dessa tragédia que assolou o mundo, continuamos sob o fogo cruzado de uma doença letal. Assombrados pela propagação das variantes do vírus, pela desorganização, delírio e incompetência dos governantes, pela falta de informação correta e ética, pelas interferências políticas em decisões que deveriam ser exclusivamente de segurança sanitária e, acima de tudo, continuamos à mercê daqueles que acreditam que o pior já passou ou, simplesmente, se recusam a tomar a vacina, tornando a missão dos cientistas ainda mais complexa para impedir que o vírus e suas variantes renovem as forças para  circular por fronteiras livres e desimpedidas.

A questão relativamente simples está posta diante da realidade do mundo. Enquanto o vírus tenta se esquivar das vacinas e as pessoas vão perdendo o senso da autopreservação e da preservação da vida do próximo, a ciência evolui estonteante sob a conturbada demanda por soluções que teriam um limite se cada indivíduo habitante deste Planeta se comportasse de maneira diferente. Parece risível, mas se opta por arriscar a vida à submeter-se à uma pseudo-clausura, recolher-se, proteger-se, justamente em nome da vida. Todos atingimos nossos limites desde que a pandemia foi declarada, mas renunciar no fim da jornada é tão frustrante e inútil quanto os esforços feitos até aqui para nos mantermos vivos. Enquanto houver o jogo da ciência versus comportamento permaneceremos vulneráveis.

No nosso caso em particular, aqui vai o despretensioso alerta: o Brasil de 2022 será um ano de eleições presidenciais o que agravará o cenário já caótico de antecipação das campanhas e da deflagração de palanques presenciais e virtuais nos quais a pandemia será mera coadjuvante, pois não haverá político genuinamente disposto a promessas que sabe, de antemão, que não as cumprirá. Haverá o candidato que teve a oportunidade de melhorar e piorou. Haverá aquele outro que no passado piorou e agora diz que vai melhorar. E haverá ainda aquele que, por falta de foco, atacará tudo o que foi bom (se é que houve algo de bom) e tudo que ainda será ruim.

Este, certamente, nunca foi um espaço para debate político, mas à medida em que os interesses partidários e eleitorais interferem nas políticas públicas, especialmente aquelas de pautas socioeconômicas, não se pode ignorar o registro mais que necessário de que a população não quer conflito e confusão. Basta de ânimos exaltados, radicalização, polarização, desrespeito pela opinião do outro, imposições, tramas e conspirações nesses longos e intermináveis dois anos da pandemia. Exausta, a população quer saúde, vida; quer ter o direito de reconquistar o emprego, uma atividade remunerada que mata a fome e sustenta sonhos. Quer retomar a vida com mínimo de felicidade e o máximo de dignidade.

A propósito, além do dia 08, dedicado às comemorações do Dia da Mulher, março é também o mês do turismo, da oração, do Dj, das sociedades amigos do bairro, do sogro, da escola, da poesia, do vendedor de livros, da árvore, da juventude e do Dia da Saúde. Por cair no 31, o último do mês, o Dia da Saúde poderia ser o pretexto que precisávamos para uma derradeira reflexão antes que chegue abril e nos arraste moços sem termos visto a vida, como diria o poeta. Hora de aproveitar o momento, agradecer por nossa saúde e pensar sobre o que estamos fazendo das nossas vidas e o que faremos, daqui para a frente, com o valente e obstinado março.

Octávio Nunes
Jornalista especializado em saúde.