Fonte: Universidade Estadual de Michigan
O novo modelo desenvolvido na Universidade Estadual de Michigan (MSU) para estudar o câncer de mama pode ajudar cientistas a entenderem melhor o motivo e o local em que o tumor realiza metástase. Pesquisadores do Departamento de Fisiologia da MSU têm investigado o gene E2F5, sobre o qual pouco se sabe, e seu papel no desenvolvimento do câncer de mama. Com base nas recentes descobertas, a perda do E2F5 resultaria na regulação alterada da proteína Cyclin D1, que está associada aos tumores metastáticos de mama após longa latência.
O estudo também demonstra que a remoção do E2F5 na glândula mamária leva à formação de tumores. À medida que os cientistas compreendem melhor como os genes afetam o câncer de mama, também poderão entender o motivo do câncer se espalhar e onde é mais provável que ele gere metástase.
A pesquisa foi publicada em uma das edições mais recentes da Oncogene, uma das principais revistas científicas sobre câncer. O professor e principal pesquisador, Eran Andrechek, também recebeu uma bolsa de US$ 300 mil, por dois anos, da Sociedade Americana de Câncer, para apoiar a próxima fase de seu trabalho.
De acordo com Andrechek, embora modelos de camundongos geneticamente modificados possam ser ajustados artificialmente por injeção para forçar as células cancerígenas a se espalharem para órgãos como fígado ou cérebro, o novo modelo de camundongo gerado em seu laboratório torna essa intervenção desnecessária.
“Uma das razões pelas quais estamos realmente empolgados com este modelo é que ele faz algo que a maioria dos modelos de camundongos geneticamente modificados não fez no passado”, disse Andrechek. “Ele está realizando metástase e, quando se espalha, vai para lugares que o câncer de mama humano normalmente vai. A maioria dos modelos de câncer de mama vai direto para os pulmões, mas não é para lá que a maioria dos cânceres de mama humanos vai. Por isso, estamos muito animados com este modelo, porque ele vai para outros lugares, tornando-o mais relevante para a pesquisa sobre câncer humano.”
De acordo com Andrechek, o câncer de mama mais frequentemente se espalha para os linfonodos, ossos ou fígado.
Focando em centenas de genes
O laboratório de Andrechek utiliza bioinformática (tecnologia computacional para capturar e interpretar dados biológicos) junto com modelos genéticos para examinar os mecanismos envolvidos no desenvolvimento e progressão do câncer de mama. A pesquisa se concentra na compreensão do desenvolvimento de tumores mamários e utiliza diversos métodos, desde modelos animais até análise computacional de dados de expressão gênica.
Há vários anos, Andrechek e sua equipe têm se concentrado especificamente na família de genes E2F, um grupo particular de genes que controlam a progressão do ciclo celular. O E2F5 é um fator de transcrição, o que significa que ele regula a expressão — ligada ou desligada — de muitos outros genes.
Determinar exatamente quais genes induzem o câncer de mama e impulsionam a metástase será o foco da próxima fase da pesquisa no laboratório de Andrechek.
“Não achamos que seja o E2F5 que está causando diretamente esses efeitos”, explicou Andrechek. “Achamos que são alguns dos genes que ele regula que causam esses efeitos. Estamos vendo centenas de genes. Então, a parte mais difícil é dissecar exatamente quais estão causando esses efeitos.”
De modelos ‘knockout’ para terapias direcionadas
Para a pesquisa, o laboratório usa camundongos nos quais um ou mais genes foram desativados ou ‘eliminados’ para estudar o papel de genes específicos. Modelos de camundongos são altamente precisos, afirmou Andrechek, porque as mesmas mutações que ocorrem em humanos também acontecem nos camundongos.
Embora o câncer de mama possa ocorrer em qualquer idade, a maioria das mulheres é diagnosticada com a doença quando está na faixa dos 60 ou 70 anos. A pesquisa de Andrechek é fisiologicamente relevante, pois leva cerca de dois anos para que os camundongos do estudo desenvolvam um tumor, o que significa que eles estão contraindo o câncer de mama em uma idade equivalente à das mulheres.
No entanto, o câncer de mama não é uma única doença. De acordo com Andrechek, existem muitos subtipos diferentes de câncer de mama, dependendo de fatores como se o tumor é positivo ou negativo para estrogênio, positivo ou negativo para progesterona e várias formas de expressão gênica.
Uma vez que os cientistas conheçam os programas genéticos que estão ativados ou desativados em um tumor específico, poderão começar a desenvolver terapias direcionadas com menos efeitos colaterais.
“Estamos longe de desenvolver uma terapia direcionada com este modelo”, disse Andrechek. “Isso ainda está a anos de distância. Mas, se pudermos começar a entender a genética por trás disso e encontrar um subtipo similar em humanos, podemos começar a adaptar as terapias. Porque o que não queremos fazer é apenas depender da quimioterapia tradicional. Os efeitos colaterais que as pessoas sofrem são terríveis. Compreender a genética por trás do desenvolvimento de um câncer de mama tem um grande potencial para desenvolver terapias menos tóxicas.”