Fonte: Redação / Foto: iStock TTSZ
Um novo estudo apresentado no ESTRO 2025, encontro realizado em Viena, Áustria, demonstrou uma abordagem inovadora de aprendizado rápido para avaliar o impacto de modificações no tratamento com radioterapia. Ensaios clínicos tradicionais costumam ser longos e não representam adequadamente as populações de pacientes do mundo real, devido a processos complexos de consentimento e critérios rigorosos de elegibilidade. Em contraste, a nova abordagem oferece uma alternativa mais inclusiva e próxima da prática clínica real.
Pesquisadores do The Christie NHS Foundation Trust, em Manchester, Reino Unido, aplicaram o método em pacientes com câncer de pulmão para avaliar se reduzir a dose na parte superior do coração — uma área considerada de risco — pode melhorar a sobrevida ao minimizar a toxicidade cardíaca associada à radioterapia convencional.
A radioterapia é um tratamento altamente eficaz para o câncer de pulmão, mas o coração frequentemente está próximo ao local do tumor. É essencial minimizar a dose recebida pelo órgão para reduzir o risco de complicações graves. Pesquisas anteriores, usando imagens de planejamento de radioterapia, identificaram a parte superior do coração como uma área particularmente radiossensível em pacientes com câncer de pulmão, sendo que a dose de radiação nessa região foi associada à sobrevida geral.
Com base nesses resultados, uma nova técnica de “proteção cardíaca” foi implementada na prática clínica de rotina para enfrentar esse desafio.
“A nova abordagem representa uma mudança em direção a uma pesquisa mais inclusiva, projetada para refletir as realidades da prática clínica cotidiana e garantir que todos os pacientes, não apenas aqueles que atendem a critérios restritos de ensaios clínicos, se beneficiem das inovações em radioterapia,” disse o co-investigador principal Dr. Gareth Price, professor sênior e físico médico da Universidade de Manchester.
“Também esperamos que, ao reduzir a exposição cardíaca, possamos melhorar tanto a sobrevida quanto a qualidade de vida dos pacientes.”
O estudo analisou dados de 1.708 pacientes com câncer de pulmão em estágio I–III que receberam radioterapia com intenção curativa entre janeiro de 2021 e fevereiro de 2025:
– O tratamento padrão de radioterapia com intenção curativa foi administrado a 922 pacientes tratados antes de abril de 2023.
– A nova técnica de proteção cardíaca foi aplicada prospectivamente a 786 pacientes a partir de abril de 2023, utilizando duas inovações principais:
– Desenho de estudo inclusivo de aprendizado rápido: essa abordagem permite recrutamento rápido, incluindo todos os pacientes tratados na instituição, a menos que optem ativamente por não participar da coleta de dados.
– Limitação de radiação em uma Área de Evitação Cardíaca (CAA): a dose de radiação em partes sensíveis do coração foi limitada a 19,5 Gy (ou equivalente) ao longo de 20-33 sessões, a menos que essa restrição comprometesse a cobertura adequada do tumor.
Os primeiros resultados mostram que o método de aprendizado rápido é altamente inclusivo, já que até o momento todos os pacientes com câncer de pulmão não pequenas células em estágio 1-3 tratados com radioterapia curativa convencional receberam a nova técnica, com apenas 1 dos 786 pacientes optando por não participar do estudo. Os achados iniciais sugerem uma melhora modesta na sobrevida de 12 meses após a implementação do limite de dose na parte superior do coração.
Respostas rápidas
Ao contrário dos ensaios clínicos tradicionais, que podem levar anos para apresentar resultados, o estudo utilizou um modelo de “aprendizado rápido” para avaliar e adaptar os tratamentos em tempo real, usando dados anônimos de rotina extraídos do prontuário eletrônico. Essa abordagem permite que os pesquisadores ajustem as estratégias de tratamento mais rapidamente, levando inovações eficazes aos pacientes de forma mais ágil.
“Esta pesquisa é um exemplo perfeito de como a inovação em radioterapia não envolve apenas tecnologia, mas também a forma como aprendemos, nos adaptamos e oferecemos um cuidado melhor,” disse o Professor Matthias Guckenberger, presidente da ESTRO e chefe do Departamento de Radioterapia do Hospital Universitário de Zurique.
“Ela demonstra o poder de combinar tecnologia de ponta com dados do mundo real para tornar a radioterapia mais segura e ainda mais eficaz.”