Artigos & Estudos

Como aumentar nossa participação em mais projetos?

Dr. Eduardo F. Motti
Sócio Gestor da Consultoria Trials & Training

Qual pode ser uma meta desafiadora, mas possível para a participação do Brasil nos estudos clínicos globais? Acredito que podemos chegar em 10% num período de 10 anos. Isso é quase mais do que três vezes o que fazemos hoje (3,7%), contando com o crescimento global dos projetos de pesquisa.

Como chegar lá? Partindo das questões de fundo, até atingir as questões do nosso dia-a-dia. Em primeiro lugar, é fundamental haver compromisso do governo com a pesquisa clínica. Isso nunca foi uma preocupação dos nossos governantes, mas agora é o momento, pois a pandemia revelou a importância de pesquisar novas vacinas e medicamentos e mostrou que o Brasil é capaz. Temos um Projeto de Lei perto de ser aprovado (PL 7082/2019), que dará mais segurança jurídica a todos os atores e estimulará a nossa competitividade.

Em seguida, precisamos de mais recursos humanos – profissionais treinados para trabalhar em centros de pesquisa, CROs, empresas de serviços e comitês de ética. A pesquisa clínica já é um mercado de trabalho significativo, e pode crescer muito mais, por isso merece maior preocupação das entidades de ensino superior, que não têm a matéria nos currículos dos cursos de saúde. Precisamos de mais profissionais e mais centros de pesquisa, principalmente em cidades médias.

Mais centros de pesquisa abrirão espaço para mais projetos e esses estimulam as atividades coligadas, como as empresas de transporte e armazenagem, de insumos hospitalares, serviços de informática, laboratórios de análises etc. Mais empresas significa mais concorrência e melhor controle dos custos.

Leia mais sobre o tema:
Como são escolhidos os países que participam de pesquisas clínicas?
Por que o Brasil tem participação tão pequena nos estudos clínicos mundiais?

Cada vez mais é preciso desmistificar a atividade de pesquisa, retirar o manto de mistério e medo sobre o que é feito. Novamente, a pandemia deu uma grande contribuição nesse sentido. Hoje se discute até em festas infantis a importância da pesquisa, o que é a fase 1, 2, 3, o que é um estudo duplo-cego e por aí vai.

A imprensa já trata esse assunto como parte da vida diária e não como algo apenas de iniciados. Temos uma grande vantagem na forte médico-paciente e na confiança que a população tem nos profissionais de saúde em geral. Isso favorece tremendamente a aderência dos participantes para entrar e permanecer nos projetos de pesquisa, mesmo sem remuneração.

Tudo isso, entretanto, não é suficiente se não houver o esforço dos profissionais que hoje trabalham nas empresas de pesquisa em apresentar o Brasil como um destino viável e vantajoso para novos projetos. Nas reuniões internas das empresas, nos congressos e feiras internacionais, nos encontros formais e informais, o Brasil precisa se apresentar e ser apresentado como um local de escolha para mais projetos.

Precisamos estimular os tomadores de decisão a vir conhecer nossos centros, nossas pessoas, o trabalho que está sendo feito. Isso faz muita diferença e muda a cabeça.

Com vontade e planejamento podemos criar um plano de longo prazo que nos coloque em posição de destaque na pesquisa clínica. Os pacientes serão os maiores beneficiados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *