Que as mulheres vivem mais do que os homens, todos nós já sabíamos, mas a Organização das Nações Unidas (ONU), em estudo recente, revelou que as mulheres vivem mais que os homens em todas as regiões do mundo. Nos países mais desenvolvidos, a expectativa de vida feminina chega aos 83 anos, enquanto a dos homens não ultrapassa os 78 anos. Em regiões mais pobres, como a África Central, a proporção é de 57 para 54 anos.
O resultado do estudo é alento para o mundo historicamente machista e habituado a ser liderado por homens que, por razões culturais, poder, arrogância ou soberba conduzem as questões mais sensíveis do Planeta que mexem com a geopolítica, a democracia, a soberania dos países e a vida das populações como se estivessem em um full figther game.
Vladmir Putin, que há duas décadas estacionou no Kremlin, precisamente na Praça Vermelha, em Moscou, tornou-se uma espécie chefe supremo do clube da luta ao ameaçar a paz mundial com suas demonstrações de poder e força bélica que exibe sempre que um fato novo signifique ameaça. A eventual adesão da vizinha Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), tornou-se uma ameaça à medida que adesão deixaria a Ucrânia distante da Rússia e mais próxima do Ocidente.
Se o poder fosse conquistado e exercido pelas mulheres na mesma proporção que os homens, provavelmente, o mundo seria um lugar mais tranquilo de se viver. As mulheres são mais inteligentes emocionalmente, refletem antes de agir; preferem o diálogo, a diplomacia, a intuição ao contrário da guerra. São mais preocupadas com a educação, saúde e menos corruptas que os homens quando estão no poder. Um estudo feito pelo Departamento de Economia da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, afirma que a corrupção é menor onde as mulheres participam em maior número nos governos. A pesquisa foi feita em 150 países, incluindo o Brasil.
Infelizmente, ainda vai demorar para que as mulheres sejam maioria nos cargos de liderança. De acordo com a ONU Mulheres, criada em 2010, “para fortalecer e ampliar os esforços em defesa dos direitos humanos das mulheres”, no ritmo atual, “a igualdade de gênero nas mais altas posições de poder não será alcançada nos próximos 130 anos”. O pessimismo se justifica quando assistimos comportamentos quase medievais em relação às mulheres em alguns países e aceitamos tudo sob a justificativa de que temos que respeitar a cultura local. No reino da Arábia Saudita, até pouquíssimo tempo, as mulheres não tinham autonomia para viajar sem a autorização ou acompanhamento de um tutor.
Das sociedades mais avançadas vêm o exemplo que serve de alento para as previsões da ONU Mulheres. Em 2021, a chanceler alemã, Ângela Merkel, deixou o governo depois de quatro mandatos consecutivos. Saiu de cena como uma das mais marcantes lideranças políticas do mundo. Demonstrou força e poder na crise financeira internacional de 2008, na crise da Zona do Euro; exortou publicamente o próprio Putin, em 2014, sobre os riscos da anexação da República Autônoma da Criméia pela Rússia; teve papel central no episódio dos refugiados na Europa e no início da crise sanitária do Coronavírus, em 2020, quando seu posicionamento televisivo conclamando os alemães a levarem a pandemia a sério, foi eleito o “Discurso do Ano”, pela Universidade de Tubingen. Em comunicado, um júri de especialista em retórica, afirmou que “Merkel demonstrou, de maneira impressionante (…) como a razão pode levar à ação e, como a boa retórica, pode fomentar o sentimento de coesão na comunidade”.
No mundo corporativo, a desproporção do número de mulheres em relação aos homens no poder não é diferente se comparado com o mundo político. Na própria Alemanha de Merkel, segundo estudo da consultoria Kantar, as mulheres ocupam apenas 13% dos cargos de lideranças. O Índice de Diversidade de Gênero (IDG) revela que apenas 10% das 668 maiores empresas da Europa com ações em Bolsa de Valores, têm lideranças com equilíbrio de gênero.
O secretário-geral da ONU foi enfático em relação às desigualdades entre homens e mulheres nas mais diversas atividades, nas relações sociais e de poder. Na data em que se comemorou o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência”, em 11 de fevereiro, Antônio Guterres ressaltou que é preciso promover a igualdade de gênero no mundo científico e tecnológico como fator decisivo para o futuro do mundo.
E lembrou que, no caso do enfrentamento da pandemia da COVID-19, as mulheres representaram 70% da força de trabalho, desde o avanço do conhecimento científico sobre o vírus, as técnicas de testes, até a pesquisa, desenvolvimento e produção da vacina contra o coronavírus. Resumo da ópera: enquanto os homens desavisados continuam fomentando o clube da luta, as mulheres estão salvando o mundo. Vida longa às mulheres!
Octávio Nunes
Diretor de Acesso ao Mercado