Saúde

Ministério da Saúde quer eliminar doenças ligadas à pobreza

Fonte: Folha de S.Paulo

O Ministério da Saúde tem como meta na gestão da titular Nísia Trindade eliminar doenças no Brasil relacionadas às condições de pobreza, saúde precária e exclusão social.

Fazem parte da lista esquistossomose, filariose, hanseníase, oncocercose, tracoma e geo-helmintíases. Especialistas ouvidos pela Folha disseram que são doenças possíveis de serem eliminadas com investimento em saúde e melhoria de condições sanitárias.

A eliminação de uma doença significa reduzir os casos para um nível consideravelmente baixo o que, consequentemente, levará à redução da fonte de infecção. Com isso, pode deixar de haver transmissão.

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Ethel Maciel, Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, disse que a eliminação dessas doenças será uma das prioridades da secretaria.

“O Brasil tem capacidade para eliminar essas doenças, elas estão concentradas em áreas de risco diferentes. A gente pode, com ações planejadas, focar nessa eliminação, trabalhando com a Opas [Organização Pan-Americana da Saúde] para que isso aconteça”, disse.

O Ministério da Saúde, no entanto, ainda não divulgou detalhes de como isso pode ocorrer.

Segundo Adriano Massuda, médico sanitarista e professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), as doenças que entraram no foco da pasta estão diretamente associadas à pobreza. Elas acometem países pobres e com o sistema de saúde desestruturado.

Ele acrescentou que antes da criação do SUS (Sistema Único de Saúde) essas doenças eram responsáveis por um número significativo de mortes no país.

“Elas acometem pessoas que vivem em áreas de grande vulnerabilidade social, sem condições básicas de saneamento e higiene e sem acesso a diagnóstico e tratamento. Na medida que o país piora a situação econômica, a miséria e a fome, os casos podem aumentar”, avaliou.

Fatima Marinho, médica epidemiologista da Vital Strategies (organização global composta por especialistas e pesquisadores com atuação junto a governos), disse que essas doenças ainda trazem complicações na população brasileira, sendo que algumas ainda causam mortes.

“Quem tem o tipo mais leve de hanseníase, por exemplo, mesmo após o tratamento, pode não recuperar totalmente a sensibilidade nos locais das manchas. Em casos mais graves, pode haver sequelas como perda de força que impõe limitações físicas para usar as mãos ou andar, e também paralisia, principalmente dos pés”, disse.

A hanseníase é causada por uma bactéria a partir do contato próximo e prolongado com pessoas infectadas, por meio de espirro, tosse ou compartilhamento de objetos. Dados mais recentes do Ministério da Saúde mostram 18.318 casos em 2021.

O último boletim da doença divulgado pela pasta diz que em 2020 foram reportados à Organização Mundial da Saúde 127.396 casos da doença no mundo. Nesse contexto, o Brasil ocupa o segundo lugar entre os países com maior número de casos, atrás apenas da Índia.

Já o tracoma é um tipo de conjuntivite causada por uma bactéria transmitida por contato direto de pessoa a pessoa por meio de remelas, espirros ou tosse ou indireto por meio de objetos contaminados. A conjuntivite bacteriana não é tão comum como a viral.

Já as outras quatro doenças são causadas através de verme e transmitidas de maneiras diferentes. A esquistossomose é transmitida pelo contato com água doce onde existem caramujos infectados. Já a filariose e a oncocercose são transmitidas pela picada de mosquitos.

Massuda acrescenta que é necessário garantir o acesso da população aos serviços de saúde para fazer diagnóstico e tratamento, sendo necessário, por exemplo, ampliar a atenção primária com equipe formada por agentes comunitários, enfermeiros e médicos.

Além disso, são defendidas políticas voltadas para renda, higiene, alimentação e saneamento básico.

DOENÇAS QUE O MINISTÉRIO DA SAÚDE QUER ELIMINAR
HANSENÍASE

É uma doença infecciosa, que pode ser transmitida a partir do contato próximo e prolongado com pessoas infectadas, por meio de espirro, tosse ou compartilhamento de objetos. A doença possui elevadas concentrações nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Está relacionada a condições econômicas, sociais e ambientais desfavoráveis.

TRACOMA

É um tipo de conjuntivite causada por bactéria, sendo a principal causa de cegueira evitável de origem infecciosa no mundo. A transmissão é via contato direto de pessoa a pessoa por meio de secreções oculares, por exemplo, ou indireto por objetos contaminados. No período de 2008 a 2019, dados da Saúde mostraram 191.048 casos no Brasil.

ESQUISTOSSOMOSE

É uma doença parasitária, diretamente relacionada ao saneamento precário. A pessoa adquire a infecção quando entra em contato com água doce onde existam caramujos infectados pelos vermes causadores da doença. Os estados das regiões Nordeste e Sudeste são os mais afetados. No Brasil, no período de 2009 a 2019, foram detectados 423.117 casos.

FILARIOSE

É uma doença parasitária, considerada uma das maiores causas mundiais de incapacidades permanentes ou de longo prazo. É causada por um verme e transmitida pela picada do mosquito infectado com larvas do parasita. Segundo o Ministério da Saúde, esta doença está em fase de eliminação no país. A área endêmica está restrita à região metropolitana de Recife, tendo o ano de 2017 como o último com identificação de caso confirmado.

ONCOCERCOSE

É uma doença parasitária em que a transmissão ocorre pela picada do inseto infectado com larvas do parasita. A área endêmica no Brasil está restrita à Terra Indígena Yanomami em área fronteiriça com a Venezuela, na região norte do país, nos estados do Amazonas e Roraima. Atualmente, a doença está em fase de pré-eliminação. Não há registros de casos sintomáticos no Brasil entre o período de 2000 a 2018.

GEO-HELMINTÍASES

As geo-helmintíases constituem um grupo de doenças parasitárias. A infecção é causada por meio do contato com o solo contaminado com ovos embrionados ou larvas de parasitas.

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