A empresa global de saúde Novo Nordisk, a Prefeitura de Campinas, a Embaixada da Dinamarca no Brasil e a Impact Hub lançaram recentemente o Cities Changing Diabetes, programa público-privado que tem por objetivo fortalecer iniciativas de redução da prevalência da obesidade, visando também achatar a curva da incidência do diabetes tipo 2, em longo prazo, em Campinas (Interior de São Paulo).
A prevalência de doenças crônicas, como o diabetes e a obesidade, tem crescido de forma alarmante no mundo todo, e muito desse impacto se deve ao estilo de vida, especialmente nos centros urbanos. Estar com sobrepeso ou obesidade é um dos principais fatores de risco para o diabetes tipo 2. Segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF, sigla em inglês), existem 537 milhões de pessoas com diabetes no mundo e 17 milhões no Brasil, de acordo com o Vigitel.
O cenário da obesidade também é impactante. São 764 milhões de pessoas no mundo com a doença, de acordo com o World Obesity Federation, e 25,9% da população no Brasil, alcançando 41,2 milhões de adultos, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, 2020).
Leia mais:
1 a cada 20 novos casos de diabetes pode estar ligado à Covid-19
Obesidade: somos quase 50 milhões de brasileiros convivendo com a obesidade
Em Campinas, há 81 mil pessoas com diabetes, sendo que a obesidade acomete 25,8% da população, com maior prevalência na faixa de renda de até um salário-mínimo. A parceria estabelecida para o Cities Changing Diabetes surge neste contexto, a partir da intenção da Novo Nordisk de implementar em uma cidade brasileira o programa que já está presente em mais de 45 cidades do mundo.
Em seu primeiro ano de implementação, o programa tem o objetivo de promover a participação e engajamento intersetorial de diferentes Secretarias da Prefeitura de Campinas, e os demais parceiros, em soluções para a prevenção da obesidade, por meio de uma intervenção que será testada em formato piloto, e será avaliada a partir de seus resultados e aprendizados.
A NuON Health entrevistou a Diretora de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade da Novo Nordisk, Simone Tcherniakovsky, para saber mais sobre a iniciativa. Leia abaixo os principais trechos.
Por que Campinas foi escolhida para o projeto?
Pesquisamos alguns municípios no Brasil com potencial de adesão ao programa e Campinas demonstrou muito alinhamento aos princípios e objetivos do Cities Changing Diabetes.
Destaco o compromisso da Prefeitura com o enfrentamento ao diabetes e à obesidade como uma de suas prioridades no âmbito da saúde pública, a notória abertura para parcerias e abordagens inovadoras, e sua vocação histórica de pioneirismo em várias frentes. O município também enxergou no Cities Changing Diabetes uma oportunidade de fortalecer seu trabalho intersetorial de prevenção e promoção de saúde.
Para essa abordagem sistêmica, também foram considerados outros elementos fundamentais: Campinas conta com instituições acadêmicas renomadas na área da saúde, e uma rede de organizações da sociedade civil e de servidores públicos comprometidos com transformações sociais, com resultados reais, com melhorias na vida de quem mais precisa.
A iniciativa será expandida para outras cidades brasileiras?
Neste momento, o foco está na implementação do programa em Campinas, para reunir aprendizados antes de replicar em outra cidade.

Simone Tcherniakovsky, Diretora de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade da Novo Nordisk
Quais foram os resultados alcançados nas demais cidades do mundo em que o projeto está em andamento?
Como citado anteriormente, o Cities Changing Diabetes está presente em outras 45 cidades pelo mundo. São projetos muito diferentes e com diversos públicos, pois consideram o contexto de cada município.
Exemplos na América Latina: Cidade do México e Bogotá.
Cidade do México
Com uma prevalência de diabetes de quase 16%, há 2,3 milhões de adultos que vivem com diabetes, além de 35% da população adulta com obesidade. Desde que se tornou a primeira cidade a aderir ao Cities Changing Diabetes, em 2014, a Cidade do México tem feito um esforço concertado sobre os desafios relacionados ao diabetes e à obesidade.
Tendo já estabelecido duas intervenções concretas, uma clínica multidisciplinar de diabetes no distrito de Iztapalapa e a iniciativa El Médico en Tu Casa (o médico em sua casa), a Cidade do México está adotando uma abordagem holística para a prevenção do diabetes, tornando a saúde uma prioridade em decisões políticas. Em 2016, a Cidade do México foi uma das seis cidades que conclamaram os governos de todo o mundo a colocar a saúde no centro da ‘Nova Agenda Urbana’, concentrando-se na prevenção de doenças não transmissíveis (DCNTs), priorizando a saúde nas políticas urbanas e empregando novos modelos de colaboração.
Para isso, o Ministério da Saúde criou a Comissão Interinstitucional sob o amplo guarda-chuva do programa Cities Changing Diabetes. Através de três instituições distintas relacionadas com a prevenção e gestão do diabetes, esta comissão assegura que a saúde está integrada em todas as decisões políticas.
Este novo modelo de colaboração ajudará a garantir que o programa Cities Changing Diabetes esteja alinhado com as metas do governo de melhorar a atuação das 840 unidades de saúde da cidade.
Bogotá
O CCD em Bogotá está realizando pesquisas quantitativas e qualitativas para mapear a prevalência de diabetes tipo 2 e doenças metabólicas, além de seus impactos, para melhorar o conhecimento sobre o desafio e ser capaz de abordar melhor os fatores de vulnerabilidade na cidade. A pesquisa resultará num plano de ação com o objetivo de transformar Bogotá em um líder global na prevenção do diabetes e de outras doenças metabólicas.
Bogotá apresenta muitos desafios para comportamentos saudáveis, como a alimentação, entre seus moradores. A interação entre barreiras sociais, econômicas e culturais dificulta o acesso conveniente a alimentos saudáveis. Essas dinâmicas afetam os direitos alimentares e a saúde das pessoas. Portanto, o foco principal é desenvolver estratégias para consolidar uma agenda local de segurança alimentar e direitos alimentares. A cidade tem avançado em uma estratégia para melhorar os ambientes alimentares nas comunidades e destacar a importância do ambiente urbano na geração de padrões de consumo de alimentos saudáveis.
Outro exemplo interessante é o de Roma, onde foi conduzido um mapeamento durante três anos, revelando que 40% dos residentes de Roma se consideram fisicamente inativos. Para resolver isso, a cidade colaborou com seus parceiros para criar 74 rotas de caminhada que cobrem aproximadamente 460 km na área metropolitana de Roma. Os percursos para pedestres, que são utilizados por cerca de 100.000 pessoas, permitem que os residentes pratiquem atividades físicas acessíveis gratuitamente.
Que recomendações podemos fazer à população em geral, para alertá-los sobre os riscos do diabetes tipo 2 e suas formas de prevenção?
É importante alertar que o diabetes é uma doença silenciosa, pois geralmente apresenta sintomas quando já está avançada. É importante consultar um médico regularmente, bem como fazer exames para identificar se a glicemia está alta. Isso é importante especialmente para as pessoas sedentárias, com sobrepeso ou obesidade, que tenham histórico de diabetes na família, pressão alta ou uma dieta muito desregrada, pois é um perfil em que as chances de se ter diabetes são maiores.
Existe uma forte ligação entre a prevalência de diabetes tipo 2 e níveis crescentes de sobrepeso e obesidade. O excesso de peso ou obesidade é o principal fator de risco modificável para diabetes tipo 2. As pessoas com obesidade têm um risco sete vezes maior de diabetes tipo 2 em comparação com aqueles com peso saudável.
Hábitos saudáveis são a chave da prevenção do diabetes tipo 2 e da obesidade. Atividade física regular, alimentação balanceada e consultar o médico regularmente para exames de rotina são importantes na prevenção.
Existem outras iniciativas similares da Novo Nordisk, no sentido de alertar a população sobre questões de saúde?
Desde 2016 promovemos a campanha Saúde Não Se Pesa, um movimento em diversas frentes para explicar claramente o que é a obesidade, quais suas causas, consequências e tratamentos, além de buscar reduzir os mitos e inverdades em torno do assunto. Tudo de forma simples, em diversas plataformas (do digital ao offline), com base na ciência, que acreditamos e defendemos.
Também investimos em parcerias para qualificar o debate técnico e intersetorial, e buscar soluções concretas aos desafios públicos relacionados à obesidade e outras doenças crônicas. Este é um dos objetivos do Painel Brasileiro da Obesidade (PBO), iniciativa liderada pelo Instituto Cordial, que foi incubada e patrocinada pela Novo Nordisk.
Quanto ao diabetes, anualmente, na mesma direção das campanhas de obesidade, direcionamos recursos a campanhas de conscientização sobre a doença, sua prevenção e tratamento, nas iniciativas Quem Vê Diabetes Vê Coração e Caneta da Saúde, além de projetos de inovação e implementação de melhorias no cuidado aos pacientes.
Em 2018, a Novo Nordisk tornou-se a primeira empresa a fornecer canetas preenchidas de insulina (Caneta da Saúde) para o Sistema Único de Saúde, uma tecnologia que garante ainda mais comodidade, qualidade de vida e continuidade no tratamento aos pacientes com diabetes.
Existem outras parcerias público-privadas, lideradas pela Novo Nordisk?
Em 2022, iniciamos uma parceria de três anos com a premiada startup social SAS Brasil, dedicada a aumentar o acesso a atendimentos especializados em saúde em municípios de alta vulnerabilidade social no Brasil.
Com a SAS, desenhamos um projeto que visa promover o acesso ao cuidado integral em diabetes para populações de com unidades vulneráveis no Brasil, por meio de atendimento especializado em saúde a pacientes com diabetes em quatro cidades com baixo índice de desenvolvimento humano (IDH) em três estados brasileiros. Até 2024, incluiremos outros municípios no projeto, com a meta de atender 5,5 mil pacientes e capacitar 420 profissionais.
O projeto tem o objetivo de promover educação em diabetes para pacientes e profissionais de saúde, aumentar o diagnóstico e encaminhar para tratamento, otimizar o tratamento de pessoas já diagnosticadas e cadastradas no município e rastrear complicações do diabetes – sempre em parceria com as equipes de saúde locais, fortalecendo o trabalho do SUS.
Essa parceria com a SAS Brasil tem uma enorme contribuição para a saúde das pessoas com diabetes nesses municípios. Os atendimentos levam informações e cuidados que faltam para essa população e o acompanhamento continuado é fundamental para poderem viver com maior entendimento e controle da doença.
Atuando de forma integrada às equipes locais, a ideia é que as melhorias sejam incorporadas pelos sistemas de saúde locais. Um dos principais diferenciais da atuação da SAS Brasil é o uso de tecnologia como aliada para a geração de impacto, por meio de unidades de telemedicina que viabilizam a realização de consultas e acompanhamento remoto por profissionais de saúde.
Isso faz parte da nossa estratégia de responsabilidade social, cujo objetivo é prevenir o aumento do diabetes tipo 2 e da obesidade, proporcionar acesso a cuidados para pacientes vulneráveis e impulsionar a inovação para melhorar vidas.
Algo mais que gostaria de pontuar sobre essa iniciativa?
Em seu primeiro ano de implementação, o Cities Changing Diabetes em Campinas tem o objetivo de promover a participação e engajamento intersetorial de diferentes Secretarias da Prefeitura de Campinas e os demais parceiros em soluções para a prevenção da obesidade, por meio de uma intervenção que será testada em formato piloto, e será avaliada a partir de seus resultados e aprendizados.