Fonte: Sociedade Americana de Nutrição / Foto: iStock
Com o aumento das taxas de obesidade e ansiedade, uma nova pesquisa sugere que essas duas condições podem estar conectadas por meio de interações entre o intestino e o cérebro. O estudo, conduzido em camundongos, relaciona a obesidade induzida pela dieta com sintomas semelhantes à ansiedade, alterações na sinalização cerebral e diferenças na microbiota intestinal que podem contribuir para o comprometimento do funcionamento cerebral.
“Diversos estudos já apontaram uma ligação entre obesidade e ansiedade, embora ainda não esteja claro se a obesidade causa diretamente a ansiedade ou se a associação é influenciada por pressões sociais”, afirmou Desiree Wanders, PhD, professora associada e chefe do departamento de nutrição da Georgia State University.
“Nossas descobertas sugerem que a obesidade pode levar a comportamentos semelhantes aos da ansiedade, possivelmente devido a mudanças tanto na função cerebral quanto na saúde intestinal.”
Wanders apresentou os resultados no NUTRITION 2025, o principal encontro anual da Sociedade Americana de Nutrição (American Society for Nutrition), que aconteceu entre 31 de maio e 3 de junho em Orlando, Flórida.
Embora seja amplamente reconhecido que a obesidade pode levar a condições como diabetes tipo 2 e doenças cardíacas, os impactos potenciais sobre a saúde cerebral ainda são pouco compreendidos. Para investigar as conexões entre obesidade, função cognitiva e ansiedade, os pesquisadores desenvolveram uma série de experimentos utilizando um modelo de camundongo que apresenta muitos dos mesmos problemas relacionados à obesidade observados em humanos.
O estudo incluiu 32 camundongos machos. Do 6ª à 21ª semana de vida — período equivalente à adolescência até o início da idade adulta em humanos — metade dos camundongos recebeu uma dieta com baixo teor de gordura, e a outra metade, uma dieta rica em gordura. Ao final desse período, os camundongos alimentados com dieta rica em gordura pesavam significativamente mais e tinham muito mais gordura corporal do que aqueles alimentados com dieta com baixo teor de gordura.
Nos testes comportamentais, os pesquisadores observaram que os camundongos obesos apresentaram mais comportamentos semelhantes à ansiedade, como o congelamento (uma resposta defensiva dos camundongos diante de uma ameaça percebida), em comparação com os camundongos magros. Esses camundongos também apresentaram padrões de sinalização diferentes no hipotálamo — uma região do cérebro envolvida na regulação do metabolismo — o que pode contribuir para prejuízos cognitivos.
Além disso, os pesquisadores identificaram diferenças distintas na composição da microbiota intestinal dos camundongos obesos em comparação com os magros. Essas descobertas estão alinhadas com um crescente corpo de evidências que aponta para o papel do microbioma intestinal na regulação do comportamento.
Embora reconheça que pesquisas em camundongos nem sempre se traduzem diretamente para seres humanos, Wanders afirmou que os resultados oferecem novos insights que ressaltam a importância de abordar múltiplos sistemas na compreensão e no tratamento de comprometimentos cognitivos relacionados à obesidade.
“Essas descobertas podem ter implicações importantes tanto para a saúde pública quanto para decisões individuais”, disse Wanders. “O estudo destaca o impacto potencial da obesidade na saúde mental, especialmente no que se refere à ansiedade. Ao entender as conexões entre dieta, saúde cerebral e microbiota intestinal, esta pesquisa pode ajudar a orientar iniciativas de saúde pública voltadas para a prevenção da obesidade e intervenções precoces, especialmente entre crianças e adolescentes.”
Wanders também observou que as condições cuidadosamente controladas utilizadas no estudo conferem rigor e credibilidade aos resultados, mas acrescentou que o mundo real é muito mais complexo.
“Embora nossas descobertas sugiram que a dieta desempenha um papel significativo na saúde física e mental, é importante lembrar que a dieta é apenas uma peça do quebra-cabeça”, afirmou Wanders. “Fatores ambientais, genética, escolhas de estilo de vida e status socioeconômico também contribuem para o risco de obesidade e os desfechos de saúde associados. Portanto, embora esses resultados sejam relevantes, devem ser considerados dentro de uma abordagem mais ampla e multifatorial para entender e lidar com os comprometimentos cognitivos e os problemas de saúde mental relacionados à obesidade.”

