Fonte: Universidade de Pittsburg
Em pacientes com um tipo avançado de câncer de pele chamado carcinoma espinocelular cutâneo (cSCC), aqueles que receberam a combinação do medicamento de imunoterapia avelumabe com o agente-alvo cetuximabe apresentaram uma sobrevida livre de progressão quase quatro vezes maior em comparação com os pacientes que receberam apenas avelumabe. Os resultados são de um estudo fase 2 apresentado no congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO) e publicado simultaneamente no Journal of Clinical Oncology.
“É uma honra e uma grande responsabilidade desenvolver ensaios clínicos que possam representar opções reais para nossos pacientes”, disse o autor principal e coordenador do estudo, Dan Zandberg, M.D., professor associado de medicina na Universidade de Pittsburgh e co-líder da oncologia médica no programa de câncer de cabeça e pescoço do UPMC Hillman Cancer Center.
“Minha esperança é que os aprendizados deste estudo levem a novas pesquisas que eventualmente incorporem essa combinação baseada em imunoterapia ao tratamento padrão para pacientes com cSCC avançado.”
O cSCC é um tipo comum de câncer de pele com cerca de 1,8 milhão de casos diagnosticados por ano nos EUA. Cerca de 95% dos casos são detectados precocemente e podem ser tratados com cirurgia simples. Porém, em casos raros, o paciente desenvolve um cSCC avançado — com tumores localmente avançados que não podem ser removidos cirurgicamente ou doença metastática. Nesse estágio, o prognóstico é ruim, e o tratamento visa apenas prolongar a sobrevida.
Zandberg desenvolveu o estudo Alliance A091802 em colaboração com a Alliance for Clinical Trials in Oncology, por meio da National Clinical Trials Network do Instituto Nacional do Câncer (NCI) dos EUA.
O ensaio, realizado em nível nacional, incluiu 57 pacientes com cSCC avançado. Dos participantes, 29 receberam a combinação de avelumabe e cetuximabe, e 28 receberam apenas avelumabe. Como o estudo permitia crossover, nove pacientes do grupo do avelumabe, cujos tumores progrediram, migraram para o grupo da combinação.
O avelumabe é um inibidor de checkpoint imunológico que age contra a proteína PD-L1, presente nas células tumorais. Quando o PD-L1 se liga ao receptor PD-1 nos linfócitos T, inibe sua ação de matar as células cancerosas. O avelumabe, assim como outras terapias anti-PD-1/PD-L1, remove esse “freio”.
Já o cetuximabe é um anticorpo monoclonal que age sobre o receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR), importante para o crescimento e a sobrevivência das células tumorais, geralmente superexpresso nas células de cSCC. Estudos anteriores realizados por Robert Ferris, M.D., Ph.D., e seu laboratório no UPMC Hillman ajudaram a revelar esse efeito imunomodulador do cetuximabe.
“A lógica da combinação é que o avelumabe tira o pé do freio do sistema imune, enquanto o cetuximabe pisa no acelerador — tentando fazer o sistema imunológico agir mais rápido contra o tumor”, explicou Zandberg. “O mais empolgante é que os resultados sugerem sinergia entre os dois fármacos, e não apenas um efeito aditivo.”
O estudo mostrou que o desfecho primário de sobrevida livre de progressão (SLP) foi significativamente maior no grupo da combinação: mediana de 11 meses, contra apenas 3 meses no grupo que recebeu avelumabe isoladamente.
Apesar dos resultados promissores, a combinação não será considerada tratamento padrão neste momento. Isso porque, desde o início do estudo, outras terapias anti-PD-1/PD-L1 — cemiplimabe e pembrolizumabe — foram aprovadas e demonstraram maior eficácia que o avelumabe em estudos com pacientes com cSCC.
No entanto, o ensaio representa a primeira comparação prospectiva randomizada entre cetuximabe combinado com bloqueio da via PD-1/PD-L1 e o bloqueio isolado dessa via, seja no cSCC ou em cânceres de cabeça e pescoço — áreas nas quais essa combinação também mostrou potencial. Os dados são valiosos para futuros ensaios clínicos.
“Esses achados destacam os possíveis benefícios da combinação do cetuximabe com terapias anti-PD-1/PD-L1 e reforçam a importância de novos estudos clínicos testando o pembrolizumabe ou cemiplimabe com cetuximabe como formas de melhorar os resultados dos pacientes com cSCC avançado,” afirmou Zandberg.

