Fonte: Dr. Mauro Ferreira, médico e consultor na área farmacêutica
O resultado do censo 2022 confirmou o envelhecimento da população brasileira que já era esperado por especialistas no assunto. A chamada inversão da pirâmide populacional evolui rapidamente e hoje temos 16% da população brasileira acima de 60 anos, totalizando mais de 32 milhões de idosos. O que chama a atenção dos especialistas é a velocidade do envelhecimento da nossa população, ao contrário de países europeus que primeiro enriqueceram para depois envelhecer, o Brasil envelheceu sem enriquecer.
O IBGE em sua publicação de 2016 já mostrava a velocidade de crescimento do envelhecimento no Brasil comparando com outras regiões mundiais.
Fonte: IBGE – 2016
Essa situação de grande número de idosos já vem provocando um grande impacto no sistema de saúde brasileiro, tanto na saúde pública como na saúde suplementar. O envelhecimento da população resulta em uma maior demanda por serviços de saúde, incluindo consultas médicas, hospitalizações, cirurgias e cuidados de longo prazo. Isso pode sobrecarregar o sistema de saúde e exigir investimentos significativos em infraestrutura necessitando um grande volume de recursos.
O aumento da prevalência de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, doenças cardíacas, câncer e doenças neurodegenerativas coloca uma pressão adicional no sistema de saúde, uma vez que essas condições muitas vezes exigem cuidados de longo prazo e tratamentos contínuos.
O sistema de saúde brasileiro nunca deu uma importância para a prevenção de doenças, mas sempre foi focado no tratamento. Apesar de existir uma Portaria do Ministério da Saúde (PORTARIA Nº 2.528 DE 19 DE OUTUBRO DE 2006) aprovando a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, pouco vemos na prática até agora.
Outro ponto que deve chamar a nossa atenção é o reduzido número de médicos especialistas em geriatria, muito menor do que o esperado pelo tamanho dessa população. Hoje temos no Brasil 2670 geriatras segundo o último censo do Conselho Federal de Medicina. Esse número é muito menor do que recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para atendimento da população idosa do Brasil. Só para comparação, existe uma relação de 1 pediatra para cada 835 crianças até 14 anos, e de 1 geriatra para cada 12.000 idosos acima de 60 anos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) em seu relatório sobre envelhecimento da população publicado em 2015 já reforçava a urgência de uma ação de saúde pública abrangente relacionada ao envelhecimento e chamou a atenção para a necessidade dos países focarem no que seria Envelhecimento Saudável.
Segundo a OMS, embora existam grandes lacunas de conhecimento, existem evidências suficientes para agir havendo algo que todos os países poderiam fazer, independentemente de sua situação atual ou nível de desenvolvimento.
O Envelhecimento Saudável tem como objetivo principal a maximização da capacidade funcional, que pode ser alcançado de duas formas: construindo e mantendo capacidade intrínseca e permitindo que alguém com uma diminuição da capacidade funcional faça coisas importantes para ele(a).
Quatro áreas prioritárias de ação podem ajudar a alcançar esse objetivo:
1. Alinhar os sistemas de saúde a populações mais idosas que agora atendem;
2. Desenvolver sistemas de cuidados de longo prazo;
3. Criar ambientes favoráveis aos idosos;
4. Melhorar a medição, o monitoramento e a compreensão.
As pessoas idosas devem ter acesso a informações e serviços de atendimento em saúde para a terceira idade, a preços acessíveis, que correspondam às suas necessidades. Isto inclui atendimento médico preventivo, tratamento e cuidados de longo prazo. Uma perspectiva de vida deve incluir atividades de promoção da saúde e prevenção de doenças cujo enfoque seja o da manutenção da independência, prevenção e retardamento de eventuais enfermidades e incapacitações, bem como a disponibilização de tratamento.
São necessárias políticas de promoção de estilos de vida saudáveis, tecnologia assistiva, pesquisa médica e cuidados de reabilitação. A capacitação de cuidadores e profissionais da saúde é essencial para assegurar que aqueles que trabalham com idosos e idosas tenham acesso a informações e treinamento básico no cuidado desses pacientes. Deve ser oferecido um melhor suporte a todos os cuidadores, inclusive membros da família, cuidadores comunitários, particularmente para atendimentos de longo prazo, e para idosos cuidadores.
O relatório aponta que a boa saúde deve ocupar um lugar central na resposta da sociedade ao envelhecimento populacional. Assegurar que as pessoas, ao viver por mais tempo, tenham vidas mais saudáveis, resultará em maiores oportunidades e mais baixos custos para os idosos, para suas famílias e para a sociedade.
Sabemos dos atuais desafios que a saúde brasileira, tanto a Saúde Suplementar como a Pública enfrentam hoje: custos crescentes ; necessidade de melhorias da qualidade dos serviços; aumento da demanda versus oferta disponível; necessidade da incorporação de novas tecnologias e de digitalização; aumento das expectativas dos pacientes.
Independentemente dessas dificuldades, é urgente que reavaliemos todo o sistema incluindo a grande velocidade de crescimento da população idosa. É fundamental que desenvolvamos e implementemos o quanto antes um plano para o atendimento dessa população. O tempo já passou.
Referências:
- INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2016/IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro: IBGE, 2016.
- SCHEFFER, M. et al. Demografia Médica no Brasil 2023. São Paulo, SP: FMUSP, AMB, 2023. 344 p. ISBN: 978-65-00-60986-8.
- Relatório Mundial sobre Envelhecimento e Saúde – OMS . https://sbgg.org.br/wp-content/uploads/2015/10/OMS-ENVELHECIMENTO-2015-port.pdf