por: Carla de Paula
19 de dezembro de 2018
nas editorias: Líderes e Práticas
Segundo o relatório “Propostas de Reformas do Sistema Único de Saúde Brasileiro”, realizado pelo Banco Mundial, o envelhecimento da população levará a um aumento correspondente a 4% do PIB no gasto total com a saúde em 2050.Entre 1980 e 2015, o gasto federal com a saúde cresceu mais rápido do que o PIB (a média de crescimento geométrico anual foi de 3,7% e 3,4% respectiva mente).
Outro dado impressionante sobre o envelhecimento populacional no Brasil vem da pesquisa “A contrapartida do setor filantrópico para o Brasil” do Fórum Nacional das Instituições Filantrópicas (FONIF), realizada pela DOM Strategy Partners. De acordo com o relatório, em 2000, para cada pessoa com mais de 60 anos, havia mais de sete pessoas entre 16 e 59 anos. Já para 2050, a expectativa é que esta relação caia para menos de duas pessoas por idoso (25% da população será idosa) e em 2060, uma em cada três pessoas terá mais de 60 anos.
Tais impactos exigem atenção sobre diversos assuntos, como de mobilidade urbana, da previdência social e da saúde. Pensando nisso, a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) lançou o “Manual de Gerenciamento e Assistência ao Idoso”, com recomendações para que as instituições hospitalares possam planejar-se e garantir o atendimento ideal para os idosos.
Martha Regina Oliveira, diretora executiva da Anahp, conta que a publicação, lançada durante a 6º edição do Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp), em São Paulo, elucida sobre os desafios que gestores terão pela frente.
Rever estruturas
“O envelhecimento é um benefício para a população e um tema importante e atual. Precisamos envelhecer com qualidade e para isso vamos precisar reorganizar vários setores da nossa sociedade em função desse envelhecimento. Por exemplo, precisaremos rever as estruturas das cidades, transporte, ação social e saúde a fim de redesenhar nossa atuação em relação a esse envelhecimento. Assim, uma equipe do Grupo de Boas Práticas na Anahp, que produz manuais e protocolos, se debruçou para entender melhor como poderíamos ter um manual que ajudasse os hospitais. A ideia era produzir instrumentos para que as instituições pudessem utilizar e alcançar a melhoria no cuidado ao idoso com foco não só nos hospitais associados, mas para a sociedade como um todo. O ‘Manual de Gerenciamento e Assistência ao Idoso’ aborda desde a mudança de rotina, desafios, cuidados paliativos até doenças crônicas. ”
Como se preparar?
“Vamos ter que reorganizar o sistema como um todo. Eu acho que teremos que ter a interface público/privada cada vez mais forte, seja na gestão ou no apoio à prestação de serviço. Propomos que cada instituição possa se organizar dentro da sua própria demanda. Por exemplo, hospitais maiores que tenham maior demanda de idoso, vão ter que se preparar de uma forma. Já os menores e com menor demanda irão agir de outra forma. Assim, o livro também contempla maneiras diferentes de organização, já que não temos que preparar somente os hospitais, mas também outros tipos de cuidado para lidar com o envelhecimento. Há a importância de uma atenção primária ou atenção especializada ambulatorial focada no idoso, além de um acompanhamento multiprofissional com equipe de enfermagem, nutrição, fisioterapia e reabilitação. O Manual traz exemplos muito simples, mas que transformam muito o desfecho do idoso. Temos que entender o benefício que o paciente terá para a qualidade de vida se pudermos fazer com que a sua funcionalidade não diminua ou que ele saia do hospital com a mesma funcionalidade que ele entrou. ”
Olhar próximo e integral
“Nós vamos ter que fazer a capacitação dos profissionais para todos os níveis de atenção, desde enfermeiros, cuidadores e médicos. Também temos que entender o cuidado ao idoso, ele não precisa estar limitado a um geriatra. Afinal, temos uma quantidade muito pequena no Brasil deste especialista e nós não teríamos tempo para formar esses profissionais diante da atual demanda. Por isso, os idosos podem e devem ser cuidados por médicos generalistas que estejam preparados para olhar o paciente dentro das suas complexidades e interações. Ou seja, precisamos da capacitação para entender as especificidades e depositar um olhar próximo e integral. ”
Boas experiências
“No mundo, temos várias boas experiências que envolvem, por exemplo, uma política de proteção de cuidadores na Alemanha e até uma política de cuidado mais global com relação à atenção ao idoso na Holanda ou em outros países europeus ou canadenses. Inclusive temos exemplos no Brasil que podemos nos debruçar. O que a gente precisa é fazer com que isso chegue na população como um todo. ”
Apoio para a qualidade de vida
“Envelhecemos graças ao avanço da tecnologia e de novas drogas. Isso são aspectos importantes para a expectativa de vida que estamos alcançando. Hoje, a tecnologia mundial com relação ao idoso tem evoluído não só para a saúde, mas também para uma interação de apoio social e para a integração com a sociedade. Vamos precisar disso na saúde brasileira também.”
Esta matéria foi publicada na 57ª edição da revista Health